Sunday, July 02, 2006

Pequeno livro vermelho


Estou de volta do meu exílio na Noruega – único país que me ofereceu refúgio do calor – mas os termômetros continuam no mesmo lugar. A umidade deve estar cerca de 95 (mil) por cento. Os meus desumidificadores japoneses (enfim uma brilhante invenção nipônica) encheram em só dez dias. Se fosse boa em cálculo diria exatamente quantos centímetros cúbicos de água isso representa, mas pra quem gosta de brigadeiro, é mais ou menos meia lata de leite Moça. Ou seja, dá fungo até em cacto.

No avião li um artigo muito interessante no International Herald Tribune. Parece que o livrinho vermelho de Mao foi substituído por outro para as Olimpíadas: um manual de ética e boas maneiras. Muito necessário, devo concordar (ver Ogros e Origamis). Não consigo, entretanto, sequer imaginar o trabalho que vai ter essa Danuza Leão chinesa.

Ética, todos sabem que não é o ponto forte dos chineses. Parece que tem até avião da Embraer falsificado (compraram um e fizeram cem). Má educação, no entanto, não é tão conhecida, já que os chineses, ou devo dizer, as chinesas, sempre passaram uma imagem de delicadas bonecas com palitinhos espetados no cabelo. A realidade é muito diferente. Ainda se vêem os palitos, mas de dentes, em todas as bocas depois das refeições. Danuza, não venha nunca à China, que você morrerá de desgosto. Concordo com a sua máxima de “palitar os dentes é um ato que deve ser feito sozinho em um banheiro escuro”, mas aqui nunca ninguém ouviu falar disso.

Não sei se o livrinho ensina os chineses a respeitar a fila, mas espero que sim. Outro dia cutuquei um que passou na minha frente. Ele foi para trás, como se nada tivesse acontecido. Eu tive que contar até 100 para não dar-lhe um cascudo na careca. Mas eu até prefiro os furadores de fila que os arrotadores em público. O pior é que anos de treino lhes dá uma força e uma vibração descomunal. São pavarottis do arroto.

O artigo também falava da mania que os chineses (com exceção de Hong Kong) tem de olharem e falarem com os estrangeiros. Alias, não é falar, e sim berrar “HELLO” lá de longe, dando tchauzinho, como se fosse seu melhor amigo. Isso ainda é melhor do que quando eles vêm correndo, conseguem te alcançar e perguntam: HELLO, uééé iu fom? (versão chinesa de where are you from). Aí você respira fundo e responde: Brasil. Mas não serve para nada, porque eles não falam inglês e não entendem lhufas. Mas insitem: UÉ U FOOOM? E você: Brasil, samba, carnaval, futebol, Pelé, Ronaldo. Aí ele pergunta: Maradona? É brincadeira, ainda mais em mês de copa do mundo! Ai que saudade do poeirão do meu cerrado civilizado.

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