Sunday, August 13, 2006

Depois da tempestade, a bonança


Um calor do cão e ar condicionado ainda em pane. Tendo a praia como último refúgio, medito aqui sobre mais um mistério chinês. Como trilha sonora, um Bon Jovi esgoelado pelas filipinas.

Os ciclones dessa temporada saíram em todos os jornais. O mais recente foi o mais forte nos últimos 50 anos a abater o sul da China. Pobres coitados soterrados, alagados, deslocados. Hong Kong esse ano teve sorte, por enquanto nenhum bateu aqui em cheio, mas vários passaram bem perto. Desde o primeiro da série, com uma mistura de medo e impaciência (ver Tufão, Trovão e Tempestade) observo atenciosamente esses circulozinhos se aproximarem e afastarem no mapa do observatório. Mesmo que não cheguem direto aqui, trazem água, muita água, e ventos de até 200km/h.

Foi durante um desses que o mistério começou:

Alerta ciclone T3 (código: T1 = atenção; T3 = evite sair; T8 = fechar comércio. A partir daí, 9, 10... salve-se quem puder). Reunião importante de trabalho. Chuvinha fina que vira um pé-d’água. Uma hora presa no ônibus. Chegada na estação central, tentativa de pegar um táxi. Mais raros que petitas honestos, desisto dos taxis. Enfrento a pé a chuva e o vento. O guarda-chuva de três “real” emborca nos primeiros dez metros. Endireito o safado. Novamente. Re-endireito-o. Na terceira vez, jogo-o na primeira lata de lixo. Encharcada e já chegando, procuro refúgio na selva de prédios.

No hall vejo meu reflexo no elevador. Cabelo de Maria-Bethânia escaldada. Maquiagem escorrendo. Sapatos descolando (droga de sapato chinês). Sujeira da rua colada na parte debaixo da calça. Atrasadééééésima. Penso em anular, ligar dizer que não vou, mas já estou aqui mesmo, e com o caos que há, são horas para voltar para casa. Correndo, vou ao banheiro tentar salvar o que resta.

Chego na reunião e ah, como você estava demorando, a Polly deu uma saidinha e já volta. Dois minutos depois chega uma senhora bem-arrumada, dá uma sacodidinha no seu guarda-chuva e se apresenta. Eu, um lixo, tremendo de frio do ar condicionado. Ela, reluzente. De um gesto da mão põe de volta o único fio fora do coque. Sorri e me diz, o segredo é comprar um bom guarda-chuva.

Algumas semanas depois, déjà-vu. Alerta T3, outro tufão. Saí muito mais cedo, agora esse não me pega. Trânsito de novo. Chegada na estação central, batalha pelo táxi (não tem petista honesto mesmo!). Armada de um poderoso guarda-chuva novo que cobre quase toda a rua, vamos lá a pé mesmo. Sobrevivi mais que os dez metros da primeira vez, o guarda-chuva aguentou. Só que não chovia só cima, mas também de lado, do outro lado e até de baixo. Só com macacão de astronauta para sobreviver.

De novo no reflexo do elevador, Maria Bethânia interpretava “Deixa Chover”. Olhos pretos (vou colocar rímel à prova d’água na minha lista de compras). Sujeira da rua pregada no sapato (brasileiro dessa vez, pelo menos a cola resiste). E logo atrás, Polly que diz Hello! Good Morning! Não tive nem a possibilidade de correr ao banheiro salvar o que me restava do meu orgulho. E ela, ali, chique, sorridente, à prova de ciclone.

Mais um mistério da fé.

2 comments:

Anonymous said...

bom eu acho que o segredo eh conseguir um taxi em dia de chuva! dona polly deve saber o segredo e pelo visto nao vende nem sob pressao... (ou vc acha que ela anda o mesmo que vc debaixo dessa chuva-ventania toda?)
heheheheh

bjs,

leo

ps - acho que vc deve assumir de vez essa bethania que esta aflorando no seu ser. rimel pra que? hahahahahaahah

GBO said...

Vou deixar os cabelos crescerem na "subaca"