Thursday, May 04, 2006

Traslado à Pequim

Um vôo de 2 horas nos levou de Xangai à Pequim. Me espantei com o tamanho do avião, (que a VARIG só usa para vôos internacionais VIP – o que exclui Lisboa, Madri e toda a América Latina), mas meu amigo chinês me lembrou que há 1.3 bilhões de chineses no planeta. Ou será só na China? E ainda 93 milhões tem sobrenome Lee (ou Li). Conclusão: altissímas são as chances de se ter um parente chamado Lee. O meu é o Bruce, já escolhi.

Só passei dois dias na cidade, entre visitas de negócio e engarrafamentos quase não visitei, mas tive uma impressão bem positiva da cidade. Ao contrário de Xangai, Pequim é horizontal, com prédios de no máximo 10 andares, nada de bares no 88o andar ou restaurantes giratórios cafoníssimos à 300m do chão.

A Praça da Paz Celestial foi o único lugar turístico que pude visitar, e ainda assim não entrei na Cidade Proibida (guardo o melhor para uma próxima visita). É interessante pensar nos vários períodos históricos da Praça. Como no Último Imperador, é fácil imaginar tropas aguardando a saída de Pu Yi em frente aos portões da Cidade; também é fácil imaginar os extraordinários desfiles comunistas pela praça e ainda quase se vê aquele tanque parado na rua pela mão de um manifestante contra o regime em 1989.

Mas há coisas que não se consegue imaginar, a sensação de confiança dos estudantes quando saíram para manifestar pacificamente na praça que tem Paz até no nome. Como os cara-pintada na Praça dos Três Poderes, eles tinham o apoio político e a certeza do que queriam. O que não imaginavam era o banho de sangue. Ainda não se sabe exatamente quantos foram mortos ali.

Hoje vi uma praça diferente. Sob uma mistura de neve e chuva, turistas de todos os lugares da China visitavam o mausoléu de Mao (que agora chamo de Mao-soléu). Uma fila de fiéis esperava ansiosamente sua vez de entrar e ver o corpo embalsamado do Grande Timoneiro. Chineses de todas classes, bem ou mal vestidos, destentados, sorridentes, velhos e crianças, vários com uma rosa na mão, passavam na sala os exatos cinco segundos autorisados à uma distância de três metros do corpo de Mao. A cena me lembrou muito os bonecos de cera de Mme Toussaud, mas seria heresia ousar perguntar se é um corpo de verdade dentro do sarcófago de vidro. Dizem que está lacrado à vácuo, como carne seca no supermercado, com todo respeito.

O kitch total, no entanto, ainda está por vir. Como na Disneylândia (mais uma vez), uma parafernália é vendida na saída. Relógios de Mao, brincos de Mao, camisetas de Mao... Zedong para parede, para cabeceira, para colocar em cima da lareira. Tudo muito vermelho e dourado. Mao, mais uma vez, vira Mickey Mao-se nesse templo consumista do comunismo. A impressão que se tem, no entanto, é de um verdadeiro amor pelo grande líder e não uma lavagem cerebral. Um novo herói, fruto da re-abertura e de busca de valores chineses.

Ufa, fora dali, de volta à praça, a neve parou e vendedores de pipa aparecem para brincar com o vento gelado. Gruas para todos lados. Os portões Ming e Qing da cidade cobertos para reformas. Um enorme relógio na frente do Great Hall of People (de novo, aqui tudo é grande e tudo é do povo) faz a contagem regressiva para os jogos olímpicos. Realmente, são novos tempos. E eu estou atrasada para comer o meu pato laqueado.

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