Wednesday, August 30, 2006
Alô, mamãe!
Gosto de eletrônica comunicativa, mas não sou a única. No meu primeiro ano de relações internaciais, um professor que não tinha mais o que fazer, nos deu uma palestra sobre o mundo "tele-micro-computrônico" onde vivemos. Apesar de ter razão, ele perdeu 70% dos ouvintes ao proferir essa frase. Em Hong Kong, telefones celulares são uma mania nacional. Ou territorial, como queiram. Há 6.9 milhões de usuários na cidade, o que significa 95% da população entre 15-59 anos (ver artigo Forbes.com).
Essa febre, como todas febres, também causam mal-estar e tontura. "Ringtones*" para todos os lados. Graças aos deuses do Olimpo ainda não ouvi nenhum celular tocando o gingle do Mr Softee. Fora isso, já ouvi tudo, gato miando, criança chorando, até a frase-fetiche do "Bus Uncle". Para os não iniciados em besteira da net, o tal do Bus Uncle é um pobre coitado que perdeu a paciência com um garoto dentro de um ônibus aqui em Hong Kong e seus gritos de "Estamos sob pressão" em cantonês em uma discussão absurda o transformaram em estrela da internet (aqui está o vídeo do youtube para quem quiser ver, mas eu não acho a menor graça. Virou moda aqui. Virou piada. Virou ringtone. --- Engraçado mesmo é o novo vídeo dos Backstreet Boys, mas não vem ao caso).
A moda é ter o "ringtone" mais chato e deixar tocar. Nunca atenda à primeira chamada, esteja você em um restaurante, na rua, ou mesmo esperando a sua carteira de identidade sair, na fila com mais milhares de outras almas que prefeririam estar em outro lugar. Testar os nervos alheios é a maior diversão. Depois de muito tocar, esgoele um Guaaaaaaaaaaaaaaaaai - o alô local. Dentro do ônibus, do elevador, do metrô. Porque aqui, claro, a cobertura é total e não existe nem aquela desculpa de estar passando dentro do túnel para poder desligar.
Mas insuportável que isso, só lá em Goiânia, onde uma resposta comum ao tradicional alô é: "Quééém?". Quem, mas quem o quê? Eu disse alô e você vem com quem.... E segue assim, eu com raiva e o outro, com ignorância: Quem o quê? Quem é que está falando? Você que está ligando. Mas quem está falando? A pergunta é, você quer falar com quem? Olha, não vai dar. Liga mais tarde, que só vai atender quando você tiver mais educação.
*Ringtone para os leigos é o toque do celular. A campainha. A sirene, em alguns casos. Como é que chama em português propriamente dito? Alguém me ajuda? Sou da época em que dicionário era Aurélio e não Houaiss, sô. E não tinha ringtone, não.
Tuesday, August 29, 2006
Me desblogguearam!
Revolução! Cultural!
Nosso enviado especial tinha razão! Liberou geral!
Todos na rua para comemorar! Mas vai ser com Cidra Cereser, que champagne aqui é muito caro. Outro dia quase caí dura quando vi Cereser para vender no supermercado. Aiiiii, com tanta coisa para exportar... Mande café, um pãozin de queijo, uma goiabadinha, rapadura, até uma cachacinha... Mas Cereser? Me lembra jogo de futebol domingo à tarde. Fla x Flu (quando tinha Fla e quando tinha Flu) e aquela propaganda da Cidra Cereser no fundo do gramado. Não provei e não gostei.
Mas não vamos acabar com a festa. Ressaca, só amanhã!
Abaixo à censura! E como diria o saudoso Bussunda: Liberté, Fraternité e Pão com paté.
Sunday, August 27, 2006
Pra não dizer que não falei das flores
Devido ao clima, as plantas aqui crescem sem o menor esforço. Orquídeas e bromélias dão como banana. Aliás, bananeiras também dão como banana. Mas o curioso não é somente a flora local, mas como a fauna humana cuida dessas flores.
A foto acima é o exemplo perfeito. O local é, digamos, uma bagunça, como todas as construções locais de menor renda (atenção não de baixa renda - estamos falando de classe média). Os chineses não valorizam a beleza e a organização do lar, talvez porque morem todos juntos amontoados e também porque não têm o costume de fazer nada em casa que não seja dormir e jogar mah-jong (uma espécie de dominó) nos domingos. Refeições são feitas na rua. Saem cedo e voltam tarde. Como diversão, vão ao shopping. Algumas vezes vão à praia (ver Farofa). Não existe vida familiar e não existe a noção de "lar" (doce-lar).
Quando resolvem "decorar" o ambiente, é assim, uma sucessão de potes, uns atrás dos outros, alegrando esse concreto e essa bagunça.
Aproveito aqui para colocar uma foto da minha orquídea que comprei outro dia, a preço de banana.
Sunday, August 20, 2006
Que beleza!
Clique aqui para assistir à reportagem da Globo.
Tuesday, August 15, 2006
Mister Softee
Eu passei a conhecer Mr Softee por duas razões. A primeira é que o caminhão passa o dia inteiro tocando uma musiquinha insuportável. Muito pior que a Kombi da laranja. Pelo menos a Kombi vai embora mais rápido do que chegou. É mais o estilo do sorveteiro de Maceió que empurra carrinho com um auto-falante assoviando um Western fajuto. O dia inteeeeeeeeeeeiro. Só que a musiquinha do Mr Softee dá arrepios. Parece de filme de terror, do gênero está tudo bem, tranquilo, crianças correndo... de repente a música acelera e tchin, tchin, tchin... a sombra de uma faca... tchi-tchi-tchi-tchin... sangue espirrado no sorvete branco. Cruz-credo.
A outra razão é que Mr Softee se vende em um caminhão velho caindo aos pedaços. Nos Zestados Zunidoz, o caminhão é de um chic total (por isso o "z" nas palavras, para ser mais chiquez). Ultra-sônico. Aqui é uma carroça, quase tão ruim quanto um Fusca. O pobre coitado do sorveteiro que sobreviver à faca do filme de terror, não sobrevive à poluição que respira o dia inteiro. O que me leva à comparar o Mr Softee às empresas que movem a economia chinesa:
Empresa estrangeira, se instala no país, com standard de segurança, saúde e preservação do meio ambiente baixíssimos, usa uma mão-de-obra barata, qualificada e que não reclama. Vende um produto bem mais barato que no mundo civilizado. O sorvete Mr Softee custa HK$6 enquanto uma bola de Häagen Dazs (falei que para ser chique tem que ter "z") custa HK$30 aqui. E o sorvete do Mr Softee até que é gostozinho... agora tem que aguentar a musiquinha!
Sunday, August 13, 2006
Depois da tempestade, a bonança
Um calor do cão e ar condicionado ainda em pane. Tendo a praia como último refúgio, medito aqui sobre mais um mistério chinês. Como trilha sonora, um Bon Jovi esgoelado pelas filipinas.
Foi durante um desses que o mistério começou:
Alerta ciclone T3 (código: T1 = atenção; T3 = evite sair; T8 = fechar comércio. A partir daí, 9, 10... salve-se quem puder). Reunião importante de trabalho. Chuvinha fina que vira um pé-d’água. Uma hora presa no ônibus. Chegada na estação central, tentativa de pegar um táxi. Mais raros que petitas honestos, desisto dos taxis. Enfrento a pé a chuva e o vento. O guarda-chuva de três “real” emborca nos primeiros dez metros. Endireito o safado. Novamente. Re-endireito-o. Na terceira vez, jogo-o na primeira lata de lixo. Encharcada e já chegando, procuro refúgio na selva de prédios.
No hall vejo meu reflexo no elevador. Cabelo de Maria-Bethânia escaldada. Maquiagem escorrendo. Sapatos descolando (droga de sapato chinês). Sujeira da rua colada na parte debaixo da calça. Atrasadééééésima. Penso em anular, ligar dizer que não vou, mas já estou aqui mesmo, e com o caos que há, são horas para voltar para casa. Correndo, vou ao banheiro tentar salvar o que resta.
Chego na reunião e ah, como você estava demorando, a Polly deu uma saidinha e já volta. Dois minutos depois chega uma senhora bem-arrumada, dá uma sacodidinha no seu guarda-chuva e se apresenta. Eu, um lixo, tremendo de frio do ar condicionado. Ela, reluzente. De um gesto da mão põe de volta o único fio fora do coque. Sorri e me diz, o segredo é comprar um bom guarda-chuva.
Algumas semanas depois, déjà-vu. Alerta T3, outro tufão. Saí muito mais cedo, agora esse não me pega. Trânsito de novo. Chegada na estação central, batalha pelo táxi (não tem petista honesto mesmo!). Armada de um poderoso guarda-chuva novo que cobre quase toda a rua, vamos lá a pé mesmo. Sobrevivi mais que os dez metros da primeira vez, o guarda-chuva aguentou. Só que não chovia só cima, mas também de lado, do outro lado e até de baixo. Só com macacão de astronauta para sobreviver.
De novo no reflexo do elevador, Maria Bethânia interpretava “Deixa Chover”. Olhos pretos (vou colocar rímel à prova d’água na minha lista de compras). Sujeira da rua pregada no sapato (brasileiro dessa vez, pelo menos a cola resiste). E logo atrás, Polly que diz Hello! Good Morning! Não tive nem a possibilidade de correr ao banheiro salvar o que me restava do meu orgulho. E ela, ali, chique, sorridente, à prova de ciclone.
Mais um mistério da fé.
Friday, August 11, 2006
De roupa nova
Ele cansou daquela carinha de prêt-à-porter desde maio e está aqui, quase pronto, depois de muito esforço. Agora vou ter que passar correndo lá na Loewe para comprar uma bolsa que combine, né?
Do nosso enviado especial
Testaremos em Xangai, em breve. Os resultados serão publicados nesse mesmo BatCanal.
--
Roberto Braga,
Enviado especial
Goiânia, Goiás
Quinta, 10 de agosto de 2006, 11h38 Atualizada às 11h28
China desbloqueia site de blogs após anos de censura
Após meses de aumento da censura na Internet por parte das autoridades, os internautas chineses receberam uma boa notícia: o servidor de blogs Blogspot, um dos mais populares do mundo, se tornou acessível após vários anos de bloqueio. Desde ontem, o acesso a qualquer blog dos servidores Blogspot e Blog City é possível na China. Antes, só era possível ler as páginas recorrendo-se a servidores "proxy" ou truques semelhantes, o que impedia, entre outras coisas, deixar comentários.
O Blogspot, serviço muito popular entre os internautas devido a sua facilidade de manejo, aloja diversos blogs com conteúdo polêmico sobre a China. É o caso de "Sex and Shanghai", no qual um estrangeiro conta suas experiências sexuais na metrópole. Outros exemplos são "Angry Chinese Blogger", que comenta a política e as atualidades do país, e "China Confidential", escrito por um jornalista muito crítico ao regime comunista.
A censura não permitia ler os blogs em território chinês. Mas, curiosamente, permitia entrar nas páginas de edição. Assim, alguns blogs eram escritos no próprio país, apesar do bloqueio. Há duas semanas, um site em que intelectuais chineses comentavam temas de política e atualidade, "Century China", foi fechado por ordem das autoridades.
A China é o segundo país com mais internautas do mundo (123 milhões, atrás apenas dos EUA). O Governo incentiva o uso de novas tecnologias a fim de desenvolver o mercado, mas restringe cada vez mais a liberdade dos usuários da internet no interior do país.
Thursday, August 10, 2006
VEJA Especial China
Agoooooora, está tudo entendido.
Tuesday, August 08, 2006
Derretendo
35 graus celsius, 90% de umidade e pane no ar condicionado.
Ai que vontade de mudar para a Islândia.
Nota: Para quem não clicou na foto da farofa. Selecionei aqui o mais importante, como jogo dos sete erros. Então, tem a Farofeira-mor debaixo do guarda-sol; a Vice-farofa em pé, com um pano em cima do boné e a Farofinha-mirim, de bóia e com um saco plástico amarrado na cabeça.
Bom, vou tomar outro banho.
Sunday, August 06, 2006
Farofa
Só que o banhista de final de semana não aparece só com a toalha. São sacos e sacos de parafernália. Bóias de todos tamanhos – e que são usadas mesmo na areia. É, o chic é sair da água com a bóia, sentar na areia com a bóia, comer o sanduíche com a bóia e voltar boiar no mar. O mesmo vale para óculos de natação. Não saem nunca da cara. Mesmo que você não saiba nadar.
Também vale organizar campeonato de pôquer, ou sei lá que jogo na praia. Todo mundo de roupa comprida, uns sacos de lixo no lugar da toalha. Aquela gritaria que é sinônimo de baralho. E claro, que tomando umas coisas que não são chá verde.
Isso tudo sem falar da indumentária que inventam... Está com calor? Amarre uma sacolinha ou um guarda-chuva na cabeça, cubra o corpo inteiro com a toalha... mas sobretudo não compre um boné. Tem também as madames que não querem bronzear (aqui, bronzeado é sinônimo de trabalhador braçal) e que vão para a praia em macacão de windsurf, viseira gigante (tipo soldador) e luvas. Uma beleza!
Pronto, você achou enfim um cantinho tranquilo, com vista para o mar sem guarda-sol, colocou sua toalha e sente um cheirinho... ahhh, você se instalou na área do churrasquinho! Sem farofa, claro!
Wednesday, August 02, 2006
Errata
Imaginei que, em um ímpeto de criatividade, os chineses haviam colocado bandeirinhas de outros países nas Xavaianas. Mas não, explica minha irmã, íntima conhecedora de todas as cores e modelos das sandálias de verdade. Foi uma iniciativa das próprias Havaianas, que não soltam as tiras, para a Copa do Mundo.
Conclusão: até isso os chineses copiaram, reduzindo ainda mais o índice de criatividade que eu lhes havia atribuído.