Domingo é dia desses cidadãos citadinos invadir parques e praias. Dia de passear com o cachorro. Dia de dar folga para a empregada e levar a família para comer dim sum.
Dia da empregada tirar folga. No domingo as ruas pululam de filipinas fazendo pique-nique até debaixo de viadutos. Certas lojas tem preços especiais no domingo, para atrair essa clientela. Dizem devem ser cerca de 100 000 filipinas que lavam, passam e limpam os lares de Hong Kong.
Barulhentas como gralhas e excitadas como pássaros livres por um dia, atingem decibéis incríveis quando tagarelam em tagalo. O dicionário diz que a definição de tagarelar é: “falar muito; falar à toa”. Acho que tagarelar é sinônimo de falar filipino. O próprio som da língua parece propenso a tagarelar, mesmo quando se diz apenas uma frase. Entrecortados por rápidos “ô-ô, ô-ô” (“sim” em tagalo), os parágrafos se unem em uma infinita tagarelice.
Quando cheguei achava triste vê-las assim, sentadas no chão de passarelas, praças, no centro, ou mesmo em ruas que fecham para elas. Hoje adoro vê-las cantar cânticos de igreja nas ruas ou na praia, jogar cartas, comer um montão e obviamente, tagarelar. Têm uma vida dura, trabalham muito e mandam de volta quase todo o dinheiro que recebem. São mais de sete milhões de filipinos que trabalham assim no mundo inteiro, o que faz deles o maior produto de exportação do país. Mas me parecem resignados a trabalhar e invadem as ruas de alegria. Ainda mais em dias que pedem cachimbo.
1 comment:
Nossa, G, que poética a sua visão das filipinas tagarelas... adorei!
Beijos!
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