Sunday, July 16, 2006

Hoje é domingo

Hoje é domingo, pé-de-cachimbo (santa ignorância, diria meu avô, porque o domingo pede cachimbo, mas quando criança sempre pensei que fosse pé). Em Hong Kong, é enfim dia de repouso. A maioria das empresas trabalha cinco dias e meio ou seis dias por semana, ou seja, domingo é o único dia totalmente livre.

Domingo é dia desses cidadãos citadinos invadir parques e praias. Dia de passear com o cachorro. Dia de dar folga para a empregada e levar a família para comer dim sum.

Dia da empregada tirar folga. No domingo as ruas pululam de filipinas fazendo pique-nique até debaixo de viadutos. Certas lojas tem preços especiais no domingo, para atrair essa clientela. Dizem devem ser cerca de 100 000 filipinas que lavam, passam e limpam os lares de Hong Kong.

Barulhentas como gralhas e excitadas como pássaros livres por um dia, atingem decibéis incríveis quando tagarelam em tagalo. O dicionário diz que a definição de tagarelar é: “falar muito; falar à toa”. Acho que tagarelar é sinônimo de falar filipino. O próprio som da língua parece propenso a tagarelar, mesmo quando se diz apenas uma frase. Entrecortados por rápidos “ô-ô, ô-ô” (“sim” em tagalo), os parágrafos se unem em uma infinita tagarelice.

Quando cheguei achava triste vê-las assim, sentadas no chão de passarelas, praças, no centro, ou mesmo em ruas que fecham para elas. Hoje adoro vê-las cantar cânticos de igreja nas ruas ou na praia, jogar cartas, comer um montão e obviamente, tagarelar. Têm uma vida dura, trabalham muito e mandam de volta quase todo o dinheiro que recebem. São mais de sete milhões de filipinos que trabalham assim no mundo inteiro, o que faz deles o maior produto de exportação do país. Mas me parecem resignados a trabalhar e invadem as ruas de alegria. Ainda mais em dias que pedem cachimbo.

1 comment:

Anonymous said...

Nossa, G, que poética a sua visão das filipinas tagarelas... adorei!
Beijos!