Friday, July 28, 2006

La garantía soy yo

Meu marido me liga da rua esbaforido, você não acrediiiiita o que eu vi na rua, Havaianas falsificadas! Relevei a acusação como sendo talvez uma falta de experiência da sua parte. Afinal, seus pés não cresceram usando (e tendo vergonha) as sandálias que não deformam, não tem cheiro, mas que encardiam rapidinho no poeirão de Brasília. Perguntei onde tinha visto. Em alguma loja? Não, não, foi no pé do chinês na rua. Bom, não pude comprovar o crime, então, deixa pra lá!

Ontem fiz uma expedição, com uma brava gente brasileira, à Shenzen, a cidade chinesa que faz fronteira com Hong Kong.

**Aqui faço uma pausa para, mais uma vez, explicar a situação geopolítica de Hong Kong. O território era sim de domínio britânico e foi retornado à China em 1997. Porém, por medo de serem invadidos por milhões de chineses em condição econômica desfavorável (e também por complexo de superioridade) os Hongkonguenses (alguém me ajuda aqui, quem nasceu em Hong Kong é o quê? Se responder que é chinês leva pancada) negociaram um acordo de 50 anos de “independência vigiada”. É o esquema de “one country, two systems”. Ou seja, mantêm suas próprias leis, próprio território, próprio passaporte e tudo mais. Mas estão sob o governo chinês. O mesmo acontece para Macau. Quer dizer, para entrar e sair de Hong Kong e Macau, os chineses do continente (mais conhecidos aqui como os “mainland”) precisam de visto. **

Onde é que eu estava mesmo? Ah, sim, em Shenzen, com a brava gente brasileira, e longe foi o temor servil que nos levou ao shopping da muamba. Vi tanto monograma que no final do dia estava tudo embaralhado. Assim como em outros “shoppings” que vimos em Pequim, ali se tem realmente a impressão de que na China nada se cria, tudo se copia. Óculos, tênis, relógios, jeans, bolsas, bolsas e bolsas...

E no meio daquela parafernália toda, lá estavam... as Havanas. Assim mesmo, H-a-v-a-n-a-s. Coloridinhas, com borboletinhas, ou lisas, com as bandeirinhas. Só que eram bandeiras da Alemanha, Holanda, França... do que você quiser! Pode escolher a nacionalidade! Depois dos aviões Embraer copiados, ali estava na minha frente mais um símbolo brasileiro “falsifi” (como diria a minha irmã). Não sabia se sentia orgulho de vê-las no meio de tanta Gucccci, Praga, digo, Prada e Xuiton, ou se sentia dó. Mas uma coisa posso afirmar depois de ter testado vááááários produtos chineses: essas, com certeza, soltam as tiras!

Wednesday, July 26, 2006

Proibido pela censura, o decôro e a moral






Nunca imaginei que fosse ter uma sensação assim. Subversiva, revolucionária, quase Cheguevarista. Meu blog foi censurado, barrado, repudiado na China*! Imaginem, meu blog! Não abre! E olha que não tenho idéias libertárias (bom, tenho, mas não ousei exprimi-las aqui).

O que será que pode ter ofendido a alma do partido? É verdade que chamei-os de ogros, mas foi assim, com carinho... (aliás, outro dia um ogro terrorista soltou um pum tão alto na rua que nos deu crise de riso). Falei de Mao, falei do seu Mao-soléu, mas foi com todo respeito ao defunto encerado (de cera mesmo, não está faltando um erre). Fora isso, falei do tempo, da chuva, falei até do Bruce Lee, mas tudo super light, igual maionese da Hellman's.

Já sei, é represália contra os brasileiros. Tanto chinês perdeu dinheiro na Copa do Mundo apostando Yuan na seleção, que estão pensando tomar medidas contra o Brasil. Falaram até de bombardear o Maracanã, mas acham que seria muito drástico, então talvez tomem medidas econômicas: vão parar de vender Luis Xiton na feira do Paraguai. Imaginem! Isso afetaria os altos escalões de Brasília, obrigados(as) a comprar bolsas copiadas, mas legais (no sentido jurídico do termo), da Vitor Hugo.

Mas sério, porque logo eu, sô? Eu não estou aqui fazendo propaganda de liberté, egalité, nem de pão com paté. Está certo que eu não apostei na seleção e desde o primeiro jogo eu falei para tirar aquele saco de batata do meio do campo**, mas não me ouviram! Está aí, escrito no blog, para provar. Ainda bem que tenho um marido francês, que apostou nos bleus. Perdi a honra, mas pelo menos ganhamos uma graninha...

Et vive la révolution!

*PS.I - Quando falo da China, é do continente - deve-se excluir Hong Kong, Macau, Taiwan, Tibet e outras áreas tomadas ou invadidas. Com exceção do Tibet, tem-se maior liberdade de expressão nessas outras áreas.
**PS.II- Mais um comentário post-mortem: Não acho justo usarem o Roberto Carlos (nem meu blog, por sinal) como bode expiatório. Ele não tinha nada que ficar fingindo arrumar a meia para disfarçar uma dor-de-viado, é certo, mas se o Robinho estivesse no lugar daquele lutador de sumô, não teríamos chegado a esse desespero. E tenho dito!

Tuesday, July 25, 2006

Poluição

Hoje é um daqueles dias que dá vontade de pegar o primeiro avião e fugir para qualquer lugar que não seja na China. Aliás, dá vontade de voltar para a Suiça, subir uma montanha, virar ermita e cantar laraliiii laralaaa o dia inteiro. Tudo isso só para poder respirar.

Desde que cheguei estou de "dariz" entupido e tudo o que falo tem til (~). Tosse crônica. Falta de ar. 102983198742 remédios.

Uma imagem vale mais que mil palavras. Aí estão as fotos. Um dia claro e um dia poluído - quando o vento bate e traz a tranqueira toda lá da China - quero dizer, do continente. Não é engano, o dia não está nublado. 34 graus e um calor do cão.



Queria saber os índices de poluição de Cubatão nos anos 80 para ter uma idéia. O problema é não tinham muitas medidas na época. De qualquer maneira, aqui vai um gráfico para comparar com outras cidades grandes.

Quem não acreditar em mim, pode dar uma olhada: www.cleartheair.org.hk

Só não é pior que outras cidades da China, como Pequim, Xangai, Xian. Lá é assim todo dia. Em Xian não dava para ver a pista de aterrisagem até quando o avião tocou no chão. Um absurdo, mas é esse o preço do desenvolvimento.

Monday, July 24, 2006

O Bacalhau de Macau


Pensando em nossos amigos lusitanos (de férias de barriga para cima no Algarve), resolvemos passear no cantinho português da Ásia. Não, não fugimos para Timor Leste, mas pegamos um “super jet boat” para Macau.

Para entender Macau, temos que voltar no tempo, à época das colônias. O brasileiro que vai a Portugal pela primeira vez, tem a impressão de chegar na matriz do Brasil. Por falta de imaginação, ou de conhecimentos técnicos, os países colonizadores tinham mania de fazer réplicas exatas das construções do seu país natal. Como isso não bastava para amenizar a saudade do além-mar no calor tupiniquim, batizavam os lugares com os mesmos nomes, os mesmos santos, os mesmos poetas. Assim no Brasil, do Oiapoque ao Chuí, passando por Minas e interiorrrr de Goiás, temos as mesmas igrejas, os mesmos paralelipípedos, as mesmas casinhas coloridas subindo a ladeira.

Chegando a Macau, a impressão é idêntica. À uma hora barco de Hong Kong, chegamos à Copacabana, com o mesmo calçadão. Ou à Diamantina com as mesmas igrejas. Ou à Cascais (Portugal) com as mesmas casinhas. Tudo igual. Tudo escrito em português. Tudo relativamente bem conservado (ver artigo “O Espírito de Hong Kong). Vendem até os famosos “pastelinhos de nata” na rua. E claro, bolinho de bacalhau. (Vendem também umas carnes carameladas esquisitas, mas isso já é o toque chinês).

Há um porém. Ninguém fala português (além, claro, de alguns imigrantes portugueses que aí ficaram). Saí tentando achar uma alma chinesa que me entendesse (porque também não falam inglês), mas não encontrei nenhuma. Fiquei igual besta: “__Fala português?” E a resposta foram sempre olhos vidrados e cara de nada. Nadinha! “__Português? __Portuguese? Fala a minha língua? Mim, Tarzã?” e sempre a mesma cara de nada.

Desistimos e fomos comer um delicioso bacalhau à Brás no Lorcha. Regado a um bom Dão com preço bem rasoável (em Hong Kong qualquer “Sang de Boeuf” custa uma fortuna). Ainda trouxemos um vinhozinho do porto escondido na mala. Foi um ótimo passeio, mas que deu uma saudade do bacalhau da Luci... deu!

Sunday, July 16, 2006

Hoje é domingo

Hoje é domingo, pé-de-cachimbo (santa ignorância, diria meu avô, porque o domingo pede cachimbo, mas quando criança sempre pensei que fosse pé). Em Hong Kong, é enfim dia de repouso. A maioria das empresas trabalha cinco dias e meio ou seis dias por semana, ou seja, domingo é o único dia totalmente livre.

Domingo é dia desses cidadãos citadinos invadir parques e praias. Dia de passear com o cachorro. Dia de dar folga para a empregada e levar a família para comer dim sum.

Dia da empregada tirar folga. No domingo as ruas pululam de filipinas fazendo pique-nique até debaixo de viadutos. Certas lojas tem preços especiais no domingo, para atrair essa clientela. Dizem devem ser cerca de 100 000 filipinas que lavam, passam e limpam os lares de Hong Kong.

Barulhentas como gralhas e excitadas como pássaros livres por um dia, atingem decibéis incríveis quando tagarelam em tagalo. O dicionário diz que a definição de tagarelar é: “falar muito; falar à toa”. Acho que tagarelar é sinônimo de falar filipino. O próprio som da língua parece propenso a tagarelar, mesmo quando se diz apenas uma frase. Entrecortados por rápidos “ô-ô, ô-ô” (“sim” em tagalo), os parágrafos se unem em uma infinita tagarelice.

Quando cheguei achava triste vê-las assim, sentadas no chão de passarelas, praças, no centro, ou mesmo em ruas que fecham para elas. Hoje adoro vê-las cantar cânticos de igreja nas ruas ou na praia, jogar cartas, comer um montão e obviamente, tagarelar. Têm uma vida dura, trabalham muito e mandam de volta quase todo o dinheiro que recebem. São mais de sete milhões de filipinos que trabalham assim no mundo inteiro, o que faz deles o maior produto de exportação do país. Mas me parecem resignados a trabalhar e invadem as ruas de alegria. Ainda mais em dias que pedem cachimbo.

Thursday, July 13, 2006

O espírito de Hong Kong


Hong Kong é o maior centro financeiro da Ásia. Isso também quer dizer que tudo aqui se compra e se vende. Principalmente no setor imobiliário.

Mais do que em qualquer lugar do mundo, imóveis significam status. Um bom apartamento em Hong Kong custa uma fortuna - mais do que em Londres, Paris, Genebra famosas por seus preços absurdos. Os preços não são controlados, o que leva à ultra-especulação, quase uma bolsa de valores imobiliária. Para piorar a situação, Hong Kong é um arquipélago de ilhas montanhosas (e um pouco de terra firme) com sete milhões de habitantes. É a Suíça inteira amontoada aqui.

Esses fatores levaram à destruição de praticamente tudo que era histórico na cidade. A foto ao lado mostra Hong Kong hoje (vista do alto da colina). Aqui está a mesma área, vista do mar, em 1950 www.harrys-stuff.com/hong-kong/victoria.php. A única coisa que restou foi o conselho legislativo (central na foto, com a cúpula). Antes na beira do mar, hoje o conselho fica no meio de arranha-céus, construídos em uns 800m de “aterramento” – entre os mais caros metro-quadrados do mundo.

A novidade agora é a venda do Dragon Garden. Um jardim privado desenhado pelo mesmo arquiteto que fez a restauração da Cidade Proibida. Não é aberto ao público, mas foi cenário de muitos filmes, inclusive um James Bond (Golden Gun). Vale 13 milhões de euros e será provavelmente soterrado em concreto em breve.

Monday, July 10, 2006

Ressaca

Estou com ressaca da Copa do Mundo. Daquelas de acordar com gosto ruim na boca.

Os brasileiros amarelaram, e os franceses (sim, torci muito para eles, tudo contra a Azzurra - Argentina européia) não deram sorte. Como em uma manhã de ressaca (noites em branco, porque os jogos aqui são de madrugada) se promete nunca mais... nunca mais eu torço.

Ainda bem que temos quatro anos para esquecer essa promessa.

Sunday, July 02, 2006

Pequeno livro vermelho


Estou de volta do meu exílio na Noruega – único país que me ofereceu refúgio do calor – mas os termômetros continuam no mesmo lugar. A umidade deve estar cerca de 95 (mil) por cento. Os meus desumidificadores japoneses (enfim uma brilhante invenção nipônica) encheram em só dez dias. Se fosse boa em cálculo diria exatamente quantos centímetros cúbicos de água isso representa, mas pra quem gosta de brigadeiro, é mais ou menos meia lata de leite Moça. Ou seja, dá fungo até em cacto.

No avião li um artigo muito interessante no International Herald Tribune. Parece que o livrinho vermelho de Mao foi substituído por outro para as Olimpíadas: um manual de ética e boas maneiras. Muito necessário, devo concordar (ver Ogros e Origamis). Não consigo, entretanto, sequer imaginar o trabalho que vai ter essa Danuza Leão chinesa.

Ética, todos sabem que não é o ponto forte dos chineses. Parece que tem até avião da Embraer falsificado (compraram um e fizeram cem). Má educação, no entanto, não é tão conhecida, já que os chineses, ou devo dizer, as chinesas, sempre passaram uma imagem de delicadas bonecas com palitinhos espetados no cabelo. A realidade é muito diferente. Ainda se vêem os palitos, mas de dentes, em todas as bocas depois das refeições. Danuza, não venha nunca à China, que você morrerá de desgosto. Concordo com a sua máxima de “palitar os dentes é um ato que deve ser feito sozinho em um banheiro escuro”, mas aqui nunca ninguém ouviu falar disso.

Não sei se o livrinho ensina os chineses a respeitar a fila, mas espero que sim. Outro dia cutuquei um que passou na minha frente. Ele foi para trás, como se nada tivesse acontecido. Eu tive que contar até 100 para não dar-lhe um cascudo na careca. Mas eu até prefiro os furadores de fila que os arrotadores em público. O pior é que anos de treino lhes dá uma força e uma vibração descomunal. São pavarottis do arroto.

O artigo também falava da mania que os chineses (com exceção de Hong Kong) tem de olharem e falarem com os estrangeiros. Alias, não é falar, e sim berrar “HELLO” lá de longe, dando tchauzinho, como se fosse seu melhor amigo. Isso ainda é melhor do que quando eles vêm correndo, conseguem te alcançar e perguntam: HELLO, uééé iu fom? (versão chinesa de where are you from). Aí você respira fundo e responde: Brasil. Mas não serve para nada, porque eles não falam inglês e não entendem lhufas. Mas insitem: UÉ U FOOOM? E você: Brasil, samba, carnaval, futebol, Pelé, Ronaldo. Aí ele pergunta: Maradona? É brincadeira, ainda mais em mês de copa do mundo! Ai que saudade do poeirão do meu cerrado civilizado.